Por que ser ouvido e ouvir-se faz diferença?

O papel da fala, em um contexto de psicoterapia, já tem a sua importância reconhecida. Freud, em seu trabalho clínico, a partir da escuta do que as pessoas traziam para ele, indicou que é no discurso que o indivíduo “descrevia o episódio da maneira mais detalhada possível, pondo o afeto em palavras” (Freud, 2016, p. 202).

Falar é importante! Mas e ser ouvido? Na psicoterapia, falar, ser ouvido e ouvir-se andam juntos. A pessoa em terapia se expressa através do discurso falado e a psicóloga, antes de mais nada, oferta a escuta atenta e qualificada que a acolhe, sem julgamentos. Ao longo das sessões, a profissional pode compreender as demandas e a subjetividade da pessoa em psicoterapia. A depender da abordagem da profissional há a interpretação das queixas e demandas.

Segundo Rogers,

“Em primeiro lugar, como encontra alguém que ouve e aceita os seus sentimentos, ele começa, pouco a pouco, a tornar-se capaz de ouvir a si mesmo (Tornar-se pessoa, p. 73).”

E ainda acrescenta:

“Enquanto vai aprendendo a ouvir a si mesmo, começa igualmente a aceitar-se mais. Finalmente, ao ouvir com mais atenção os sentimentos interiores, com menos espírito de avaliação e mais de aceitação de si, encaminha-se também para uma maior congruência.” (Tornar-se pessoa, p. 74).

Sapienza também contribui para essa temática em seu livro “Conversa sobre Terapia”, quando nos fala:

“Então terapia é também um pouco isto: ocasião de ouvir a própria voz a dizer coisas que uma vez ditas, encorpadas na voz, são acolhidas por ouvidos humanos. Tomando corpo assim, elas se mostram com mais nitidez. Pensamentos e sentimentos expressos dessa forma podem ser compreendidos melhor em suas proporções e significados.” (Sapienza, p.29).

Outro autor que ajuda a delinear todo esse contexto é Bion, que nos apresenta os conceitos de contido e continente, sendo esse último relacionado à psicóloga e seu trabalho de escuta e manejo terapêutico.

O ambiente da psicoterapia e a aliança terapêutica criam as condições necessárias para as ações de ouvir, falar e ouvir-se, que são tão importantes para o desenvolvimento do trabalho psicoterapêutico.

Esse artigo foi escrito por:

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Jacqueline Bonardi Tavares

Psicóloga – CRP 06/201399

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