Olho gordo, dor de cotovelo, olho que seca a pimenteira, a inveja tem sono leve, são expressões populares associadas à inveja. No filme DivertidaMente 2, a personagem inveja foi retratada com os olhos deeeeeeesse tamanho, pupilas dilatadas e brilhando.
Mas como podemos definir a inveja? Vou trazer o conceito a partir da psicanálise. Segundo Melanie Klein: “A inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo desejável […]” (Klein, 1957, p. 236). Ela está presente desde os momentos mais primários da vida do bebê, quando o Ego ainda está fragmentado. Lidar com a inveja, e com os efeitos dela, faz parte do desenvolvimento emocional do indivíduo.
“Há muitos anos venho me interessando pelas fontes mais arcaicas de duas atitudes que sempre nos foram familiares: a inveja e a gratidão. Cheguei à conclusão de que a inveja é um fator muito poderoso no solapamento das raízes dos sentimentos de amor e de gratidão, pois ela afeta a relação mais antiga de todas: a relação com a mãe.” (Klein, 1957, p. 230, 231)

Nos primeiros meses de vida, a inveja é muito mais potente. Os recursos psíquicos internos e o contexto de cuidados que o bebê recebe são aspectos que interferem na lida com essa inveja estrutural. O bebê se defende dela com mecanismos criados pelo seu Ego.
Um exemplo de mecanismo é a “desvalorização do objeto” (Klein, 1957, p.278), que se desenvolve no contato do bebê com a mãe/cuidador(a), sendo ela/ele alvos da projeção dos impulsos agressivos do nenê. Existem outros mecanismos de defesa que também operam contra o sentimento de inveja, esse é apenas um para pensarmos no tema inicialmente.
Em etapas de vida como a adulta, adolescência, ou até mesmo a infância, pode-se observar certos mecanismos de defesa do Ego contra a inveja durante as interações sociais da pessoa. Novamente, há uma expressão popular conhecida: quem desdenha quer comprar, que pode nos ajudar a pensar em um contexto para esse tema, pois se não é possível ter/ser aquilo que se deseja, o Ego subestima/desvaloriza/estraga o seu foco de atenção.
Enfim, daqui me despeço. Esse é um assunto bastante denso e complexo, que merece outras postagens!
Referência
Melanie Klein. Inveja e gratidão e outros ensaios, 1946-63. São Paulo: Ubu editora, 2023.