Ansiedade, quem te convidou?

Cheia de malas, sem pressa de ir embora

Quando a ansiedade foi revelada como uma novidade para o filme DivertidaMente 2, foi um alvoroço na internet: muitos comentários e memes foram feitos. Logo já se criaram expectiva s de como seria vê-la em ação durante o filme. Claro que alguma coisa ela iria aprontar, com certeza (eu mesma pensei isso).

Enquanto personagem de animação, ansiedade foi representada com a cor laranja e uma blusa listrada (que é uma estampa repetitiva). O laranja é a cor ligada à energia e excitação e os adjetivos que são atribuídos à ela são: frenético, impulsivo e intrusivo. Para obter o laranja é necessário a mistura das cores amarela e vermelha, que também são relacionadas à energia.

Mas quem convidou a ansiedade? Na verdade, ela não precisa de convite (não é possível).

A ansiedade, enquanto uma manifestação mental humana, acontece naturalmente na vida das pessoas. É possivel percebê-la quando estamos diante de alguma situação ou estímulo estressor, desconhecido ou que seja entendido como um risco. É uma reação ligada à sobrevivência do organismo e traz consigo reações fisiológicas que mobilizam comportamentos de luta ou fuga. Alguns sintomas de ansiedade são: tensão muscular, prevalência do estado de vigilia, aceleração dos batimentos cardíacos, sudorese e tremores.

O medo, quando se associa à ansiedade, apresenta-se de maneira intensa, desporporcional ou até mesmo incontrolável diante de algum estímulo ou situação específicos e pode mobilizar comportamentos de esquiva. Além disso, preocupações constantes e repetitivas, inseguranças e apreensões sobre o futuro podem fazer parte dos pensamentos da pessoa.

A ansiedade é, portanto, uma sensação desconfortável, tanto fisicamente, quanto psiquicamente. Nos quadros ansiosos, ela atrapalha a qualidade de vida da pessoa, trazendo sofrimento. Dessa forma, a ansiedade é considerada um transtorno e exige mais atenção.

Muitos fatores podem contribuir com o estabelecimento dos mais diversos tipos de transtornos de ansiedade. Situações da história de vida, vivências traumáticas, fatores hereditários e aspectos da personalidade do indivíduo podem contribuir para uma estado psíquico que exija um acompanhamento de profissionais da saúde, tais como psicóloga e psiquiatra.

De acordo com o mais recente relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) – “World mental health report: transforming mental health for all” (ou seja, “Relatório mundial sobre saúde mental: transformando a saúde mental para todos”, 2022), 13% da população mundial (970 milhões de pessoas) enfrentam algum transtorno de ordem mental. Dessa parcela, os transtornos de ansiedade estão presentes em 31% das pessoas, ou seja, são os prevalentes.

A psicoterapia pode auxiliar pessoas com transtornos de ansiedade?

Sim, bastante. Seja qual for a abordagem utilizada pela psicóloga, a psicoterapia é muito importante para o tratamento da ansiedade. Através dos relatos da/o paciente e a escuta profissional da terapeuta, é possível reconhecer os momentos que intensificam os sintomas ansiosos. Com o processo terapêutico, a percepção de si é ampliada e a identificação das causas da ansiedade acontece e, então, podem ser elaboradas junto com a psicóloga. Além disso, antes de mais nada, o acolhimento da psicoterapeuta pode promover o alívio do sofrimento desencadeado pela ansiedade.

Esse é um assunto amplo e merece mais de uma postagem. Daqui me despeço. Até o próximo post.

Referências

American Psychiatric Association (APA). DSM V – Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders, 5th version. Washington (DC): American Psychiatric Press, 2013.

Castillo, A. R. G. et al.. Transtornos de ansiedade. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 22, p. 20–23, dez. 2000.

Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 3. ed., Porto Alegre: Artmed, 2019.

Heller, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. Tradução Maria Lúcia Lopes da Silva, 1. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

World Health Organization. World mental health report: transforming mental health for all. Geneva. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240049338. Acesso em 17 de agosto de 2024.

Esse artigo foi escrito por:

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Jacqueline Bonardi Tavares

Psicóloga – CRP 06/201399

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