Essa vergonha foi no débito ou no crédito?

Descubra mais sobre a vergonha nos parágrafos a seguir

Quando eu era criança, lá nos anos 90, ainda não existia o filme Divertidamente. Nos desenhos animados que eu assistia, havia um representante muito bom para a vergonha: o personagem Dengoso, que era um dos 7 anões do filme “Branca de Neve”, animação clássica da Disney. Ele ficava com o rosto vermelho e era o mais tímido dos anões.

Dengoso todo meiguinho e envergonhado

Vamos lá então ao assunto desse post: vergonha e antes de mais nada, vamos ao conceito em si.

O que é vergonha?

A vergonha é aquele afeto que reflete várias coisas: medo do julgamento, sensação de inadequação, percepção negativa de si e até mesmo inferioridade e desconforto. Ela está envolvida em momentos mais corriqueiros, como tropeçar na rua, e também em situações de exposição (e até mesmo humilhação). A vergonha frequentemente se associa a outras emoções/sentimentos, tais como: medo, ansiedade, culpa e tristeza, por exemplo. A autoestima é também um elemento importante quando buscamos entender todo o cenário envolvido na manifestação da vergonha.

Atualmente temos esse afeto retratado na animação Divertidamente 2. O/A personagem foi feita/o toda/o rosa (rubor característico quando ficamos envergonhados) com uma blusa de capuz (tentativa de se esconder) e seus olhos brilhantes, ou seja, um olhar bem expressivo, mais do que a boca, por exemplo.

Vergonha, você não quer falar nada?

Muito mais que um vexame pontual

A vergonha, na realidade, é complexa, e pode ser estudada a partir de fatores sociais e econômicos. Em sua esfera psíquica, está relacionada à identidade do sujeito e tudo que tem a ver com ela. No âmbito dos aspectos socioeconômicos, podemos pensar o assunto sob o contexto de classes, que traz as questões de inferioridade/superioridade envolvidos nas relações de dominação presentes na sociedade (Gaulejac, 2006 apud Feitosa, 2012).

Sentir-se envergonhado tem forte ligação com os laços sociais, especialmente quando falamos sobre olhar do outro sobre nós e as questões morais. As inibições, o medo de se expressar/se expor e a vontade de “sumir” (ou seja, a anulação de si) entram nesse cenário, trazendo os aspectos relacionados à identidade, autoestima e o funcionamento da psique humana (para a psicanálise, estamos falando da interação entre Ego, SuperEgo e Id). É interessante dizer também que o fato de sentir vergonha muitas vezes nos traz para a realidade e pode trazer muito sofrimento e humilhação (Gaulejac, 2006 apud Feitosa, 2012).

A vergonha controla a sua vida?

Existe um ditado popular que diz: “Quem tem vergonha cai de magro” que nos alerta sobre como a vergonha exagerada pode prejudicar aquele que a sente, inibindo muito as suas ações.

Agora, quando uma situação vergonhosa não causa grandes consequências emocionais ou traumáticas, contar o que aconteceu pode mobilizar momentos de riso e diversão, tanto pra quem conta quanto pra quem escuta. Na hora não foi legal, mas depois que passou é engraçado.

Vergonha e timidez

As pessoas consideradas tímidas podem sentir vergonha com mais frequência no seu cotidiano, mas é algo que nos faz pensar: é tímido porque sente mais vergonha, ou sente mais vergonha porque é tímido? Bom, ai precisaríamos entrar em mais um assunto que é a personalidade e o seu desenvolvimento, para além do que chamamos de vergonha ou o medo do julgamento. A vergonha é uma resposta emocional e a timidez está relacionada com a personalidade. Quando analisamos a vergonha, o contexto em que ela surgiu é fundamental, principalmente se ela causa sofrimentos ou impacta na rotina daquele que a sente em excesso.

É o jeitinho dele! Dengoso, um grande querido

E a vergonha alheia, hein?

Curioso que além de termos que viver as nossas próprias vergonhas, ainda temos momentos de “vergonha alheia”. O que nos faz refletir se a vergonha é realmente só do outro…

Não passe vergonha e leia também:

Daqui me despeço, até o próximo post!

Referência

FEITOSA, I. P. et al.. Repensando o sentimento da vergonha: contribuições psicossociológicas. Fractal: Revista de Psicologia, v. 24, n. 1, p. 203–210, jan. 2012. https://www.scielo.br/j/fractal/a/5FnwNMLnjC8RPHVhjmmrrwK/?format=pdf&lang=pt

Esse artigo foi escrito por:

Picture of Jacqueline Bonardi Tavares

Jacqueline Bonardi Tavares

Psicóloga – CRP 06/201399

Respostas de 2

  1. Vergonha é um sentimento que nos bloqueia em muita coisa, vejo muito disso ao aprender um novo idioma, e o texto consegue equilibrar bem a profundidade do tema com uma abordagem leve e envolvente. Adorei a conexão com a geração dos anos 90, trouxe um toque nostálgico e simpático.

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